domingo, 2 de julho de 2017

Sobre o jovem tatuado

Gostaria de refletir com vocês sobre toda situação que envolve o jovem tatuado na testa em São Bernardo do Campo-SP. Não quero defende-lo nem irei acusa-lo, mas observemos do ponto de vista filosófico as várias questões que envolvem o fato.
 Primeiro precisamos pensar o que significa justiça, e pessoalmente nunca li essa atitude do tatuadores, defendida por filósofo algum, é certo que por um tempo na história a tatuagem foi usada para marcar criminosos condenados a morte, mas não era em suas testas. Justiça é um conceito bem diferente do que se entende por “fazer justiça com a as próprias mãos”, esse ultimo é vingança, e não justiça.
 A justiça trata-se da avaliação e julgamento equitativo das ações, ou seja equilibrado, além de ser imparcial. O que temos vistos é uma série de ações vingativas das pessoas em relações aos que se supõem criminosos.
 Outra coisa a se pensar é sobre o conceito de pessoa e tudo que o envolve, no caso, a dignidade da pessoa humana, tão defendida pelos representantes dos “Direitos Humanos”. O jovem, mesmo que tenha cometido o crime do qual foi acusado, deve ter sua dignidade respeitada, assim como os agressores, também devem tê-la, além de serem tratados com justiça e não uma pena maior, apenas por pressão dos ativistas.
 Por que falar sobre dignidade humana? Vi que alguns ditos cristãos tem se mostrado a favor dos tatuadores, e isso é completamente diferente do que o cristianismo ensina, haja vista que foi ele mesmo que cunhou os conceitos de pessoa e dignidade humana, além de desconhecerem a noção de imago Dei, que atribui a toda pessoa ser criada a “imagem de Deus”.
 Temos um problema de ordem ética e política, estamos em estado de desordem, sim, desordem. O judiciário e o parlamento estão desacreditados, essa situação vem refletindo nas ações dos cidadãos, levam pessoas a agirem como quem tatuou ou quem acorrentou outro jovem (lembrando do menino acorrentado no Rio de Janeiro). Por isso desordem, pois a ordem social desacreditada é desobedecida em níveis extremos e não se tratam da boa desobediência civil, que se trata da desobediência aos abusos do Estado.
 Além do sistema judiciário desacreditado, temos um sistema carcerário que também não cumpre seu papel de correção e reinserção da pessoa na sociedade, por certo que é necessária a vontade do individuo em mudar, mas a demanda econômica e política sufocante que não ajudam os menos favorecidos, aliado a glamorização e romantização da vida no crime, sem falar na impunidade contra crimes de qualquer ordem, são o fundamento para a situação terminal que se encontra nossa nação.
 Como já disse, não estou defendendo ou acusando nenhum dos envolvidos, mas se pararmos para pensar um pouco mais veremos que não se resolvem os problemas sociais e criminais de maneira simplista como tatuar a testa de “criminosos”, esse fato apenas revela o quanto estamos degradados. Percebo a ideia da filósofa Hanna Arendt, sobre a “banalidade do mal” muito presente nas palavras das pessoas em conversas e nas redes sociais.
O fato revela nossa responsabilidade enquanto cidadãos que elegem o parlamento e o executivo em todos os níveis, bem como a responsabilidade de fiscalizar as ações dos parlamentares, protestar e reivindicar o bom uso do dinheiro público, rompermos a barreira do “não adianta, político é tudo igual” como diz-se popularmente. Ou assumimos nossa responsabilidade sobre consequências das escolhas que fazemos ou não adiantará reclamar de nada, nem de ninguém.
Que tal refletirmos sobre esses pontos?
Os convido para nos acompanhar no Facebook em nossa “Pensar Juntos Filosofia”, em nosso Café Filosófico mensal ou entre em contato pelo WhatsApp para mais informações (12) 98229-3143.

  Rogério Penna
Junho de 2017

*Texto originalmente​ publicado no Jornal Vale Vivo, de circulação na região do Vale do Paraíba no estado de São Paulo, publicado no dia 22/06/2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário