domingo, 4 de setembro de 2016

O que penso que seja a Filosofia!*

Não quero com esse texto definir nada, mas apenas apresentar muito particularmente aquilo que creio ser a escolha que fiz, talvez até explique porque a escolhi, mas como é uma pergunta que todos fazem a nós formados na área, tento aqui dizer nada criteriosa ou cientificamente sobre que penso ser a filosofia.
Perguntar “o que é a filosofia” parece a pergunta mais freqüente aos que são formados na área, bem como chamá-los de filósofos. A resposta para essa pergunta é difícil e nada rápida, nem mesmo depois de muito pensar ela parece ser clara, afinal, sempre que tentarmos definir “o que é a filosofia”, sempre esbarraremos em definições muito particulares, contudo, em algum lugar essas varias respostas se encontrarão e concordarão, qual seja, dizer que a filosofia é fazer o uso da razão.
Oras, isso não define a filosofia, mas é um atributo dela, afinal, esse uso da razão se pretende livre e critico, como já disse Kant, é “fazer uso de seu próprio entendimento”, aquilo que ele chamou de maioridade. Concordo com Kant e é nesse sentido que direciono meu trabalho, pois bem, sou um filósofo? Creio ainda não, ou pelo menos não do modo que eu desejo, mas sou professor de filosofia, que ensina a historia da filosofia e as filosofias de cada época aos meus alunos e, a partir daí, levá-los a filosofar como também propôs Kant.
Então já podemos dizer que filosofia é fazer uso de uma razão, razão esta em um estágio de maioridade e que não se pode ensinar nem aprender a filosofia, somente filosofar, e também que, nem todo professor de filosofia é de fato um filósofo. Bem, mas porque nem todo professor de filosofia é filósofo? Penso que a produção filosófica define o filósofo, aquele que se dedica a produzir filosofia, esse é filósofo, e nós professores, infelizmente não temos tempo nem incentivo para produzir, dado ao volume de trabalho e a demanda burocrática da profissão no Brasil. Tenho arriscado produzir, creio que posso me considerar um filósofo hoje, pelo esforço no assunto pesquisado não apenas para escrever sobre ele, mas para coloca-lo em prática no dia a dia, no meu e nos que me rodeiam, esperando também no dia a dia de pessoas que sequer conheço.
No entanto, ser um bom professor de filosofia não é demérito nenhum caso não venha ele a se tornar um filósofo, pois, o papel do professor, no caso e especialmente o de filosofia é fazer com que seus alunos sejam capazes de alcançarem essa maioridade proposta por Kant, pensarem por si mesmos sobre os assuntos do seu dia  a dia, afinal, a filosofia não nasceu nos gabinetes dos filósofos e muito menos deve permanecer em um, ela deve estar aplicada nas questões mais simples da nossa existência.
A filosofia nos faz mudar, nos faz ser diferentes, e as vezes a diferença incomoda, eu mesmo já sofri alguns “preconceitos” por pensar diferente, por ver diferente. Não são só rosas, não é “viajar” como muitos pensam, a filosofia traz incomodo, inquietação, desespero, impaciência para com as questões do mundo e da vida humana, ela não nos deixa tranqüilos com relação as respostas dadas pelos filósofos, como um bloco de idéias inalteráveis que não podem ser questionadas e rejeitadas caso queira, até modificadas, quem o sabe. Isso traz incomodo, inquietação, desespero, impaciência.
Mais não se descabele, isso tudo que vem com a filosofia é ótimo, nunca me arrependi de ao entrar no curso de filosofia ganhar todos esses “brindes” que a maioria das pessoas não quer, afinal, como diz um velho ditado “a ignorância é uma benção”, não causa nenhum incomodo, inquietação, desespero, impaciência, com isso somos incapazes de mudar alguma coisa e permanecermos sempre numa zona de conforto quente e aconchegante. Próprio do que não é da filosofia e que é combatido desde o nascimento dela, a Filosofia.
Por isso, se dê uma chance de ver diferente, rever idéias e conceitos que estão a tempos solidificados, e como escutei em uma palestra certa vez “a mudança acontece quando a dor de permanecer é maior que a dor de mudar”, e afirmo que a filosofia dói, pois nos força a rever. Desse modo, me considero um masoquista, pois a dor que a filosofia me causa é algo que nunca quero deixar de sentir, nunca quero deixar de ser criança, pois é na infância que procuramos saber todos os porquês e ouvimos que somos ou curiosos ou chatos. Acredito que não deixei de ser criança, ainda escuto que sou chato por questionar, que sou "crítico" por não me conformar com o posto e, que bom, sinal que meu esforço filosófico não deixou de ter sentido pra mim.
Não pense que é essa uma visão trágica da filosofia, nem mesmo poética, talvez um relato nada filosófico e muito emocional daquilo que escolhi para minha vida, pois de fato, amo a sabedoria, sou amigo dela, ou pelo menos tento, como a etimologia da palavra filosofia traduz.

Professor Rogério Penna

*Esse texto foi originalmente escrito em 2009, foi editado para essa publicação, afinal, a mudança faz parte de nós e relendo percebi algumas bobagens megalomaníacas no texto original, fazendo que fosse preciso modificar. Faz parte do repensar nossos pensamentos.

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