segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Didática da Pregação (Parte 1)

Um artigo meu foi publicado no site Evangelho Inegociável, basta clicar no link para ser direcionado para lá e poder fazer sua leitura.


http://www.evangelhoinegociavel.com/didatica-da-pregacao-parte-1/

domingo, 19 de agosto de 2018

A razão acaba? Ela serve ao cristão?


A razão acaba? Ela serve ao cristão?

Nesta sexta-feira, 17 de agosto de 2018, estava dando aula para uma 3ª série do ensino médio, a aula era sobre a “Justa desigualdade para Platão”[1], faz parte do currículo do estado de São Paulo esse conteúdo, logo não era minha a intenção, mas o como ensinar a respeito eu sou o autor sem dúvida.
Para entender o que significa isso é preciso entender que Platão, pensa a pólis como a anima ou alma do ser humano. Quer dizer que Platão divide a cidade em três partes, como ele fez com a alma, da seguinte maneira:
- A alma está dividida em parte concupiscente, aquela que é responsável pelas nossas necessidades básicas, fome, sono, sede, reprodução, além do ser humano todo ser vivo a tem.
- Outra é parte iracivel, é a parte responsável pela sobrevivência frente aos perigos, os seres vivos também tem essa parte para sua proteção, uma cascavel não faz ataques gratuitos, mas sim apenas na intenção de se proteger.
- Finalmente a outra parte da alma é a alma racional, responsável pelo controle das outras duas e organiza nossas ações e reações, por exemplo nos ajudando na hora que sentimos vontade de usar o banheiro, não o fazemos em qualquer lugar, mas procuramos um lugar apropriado, não saímos por ai atacando as pessoas, mas acabamos usando a agressividade em nossa defesa – mesmo que alguns usem ajam erradamente e usam a força para reprimir e violentar o outro em sua dignidade.
Dito isso para meu alunos, surge uma pergunta: “Professor, a razão pode acabar?” Parei por um instante, percebi a honestidade da pergunta e respondi:
 - ‘Não, a razão não pode nem nunca vai acabar, mas há um problema, trocarmos quem deve controlar. A razão pode sair do controle por uma doença, o caso da depressão, da síndrome do pânico. Momentaneamente perdemos o controle da razão e se fosse Freud, diria que seu superego (sua consciência repressora) assumiu o controle.
No entanto, se é uma doença relevamos, mas nosso problema ainda pode ser maior. Voluntariamente se pode entregar o controle da razão aos seus desejos e instintos. Atualmente – disse eu – ou talvez sempre, as pessoas tem entregado o controle de suas ações aos seus instintos. Você pergunta a alguém “por que fez isso?”, ela responde que fez porque teve vontade, não pensou nas consequências, ou seja, não fez uso da razão.
Pegaram a razão, jogaram para debaixo do tapete, sobre esse tapete puseram um armário bem pesado para a razão não sair dali. É como eu me sinto diante das pessoas. Sinto dor, angustia, sofrimento em vez que uma coisa tão simples como o uso da razão e rejeitada em vista de fazer “minha vontade”.
Se fosse Freud, ele diria que é o id (sua consciência volitiva) quem controla a mente dos homens hoje, tudo parece ser uma questão de “suprir uma necessidade” que na verdade não existe.’
Houve um silêncio enquanto e depois de ter dito isso, vi algumas reações de concordância com a cabeça, percebi que essa “pedrada” havia acertado a janela, ainda não sei, mas minha esperança é que tenha quebrado o vidro e acertado o espelho dentro da casa.

A razão e o cristão
A aula acabou, mas aquilo que eu havia dito para eles voltou-se para mim com uma pergunta “e o cristão, onde cabe isso na vida cristã?” Logo me lembrei de Paulo dizendo em Romanos sobre “culto racional”, diz o texto “Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês[2]. Me perguntei novamente: “Quantas vezes uso a razão para prestar culto a Deus?”
Quero que você saiba que não é um gnosticismo, não significa que ter conhecimento ou currículo acadêmico é ser salvo ou glorificar a Deus. Não é isso, a pergunta que me fiz e que te faço é: Quantas vezes eu estou racionalmente consciente da minha prática cristã? Outra pergunta seria: “Quantas vezes não estou agindo mecanicamente, sem sequer pensar nas minhas ações? Quantas vezes a fé cristã é controlada pelas necessidades básicas ou pela autoproteção? E eu creio que nenhuma dessas duas seja saudável.
Sem dúvida que nossa razão não é auto suficiente, não acredito nisso, pois, como herdeiros do pecado de Adão estamos sujeitos a uma mente limitada, incapaz de compreender as maravilhas de Deus, bem como os malefícios do pecado sobre nós. A própria queda de Adão e Eva foi a superação do controle racional pela vontade (parte concupiscente, id), além de querer vencer o que julgou repressor (outo proteção, superego), colando de lado a sua razão que conscientemente sabia que não deveria comer o fruto, pois os mataria[3].
Depois da queda, a razão humana fica enuviada pelo pecado, que agora o impede de ver claramente, tal qual a neblina numa manhã de inverno ou a noite sem luar, somos tomados agora por instintos que nos levam ao descontrole, ao desequilíbrio, a irracionalidade. Quando os homens decidem fazer só o que lhes dá vontade, o outro sofrerá as consequências.
Não me lembro com exatidão, mas me lembro de Rousseau, querendo falar sobre a formação da sociedade e das leis, ele afirma que ser guiado pelos instintos não é liberdade, é escravidão, a verdadeira liberdade está em criar leis pelo uso da razão e as obedecer, já que ao cria-las decidimos por elas não mais por instinto[4].
Rousseau não é cristão nem estava pensando nisso quando escreveu essa ideia, contudo, pensando sobre o “culto racional” me recordo disso e não é possível não liga-la a fé cristã, Paulo nos lembra que antes de Cristo éramos escravos pecado (romanos 6) e que agora por meio do sacrifício de Cristo devemos obedecer a Deus, nos submetendo as Suas leis.
Voltando a Platão, seria dizer que nossa parte racional estava aprisionada por causa do pecado e que agora em Cristo ela é livre para controlar as outras duas, o versículo seguinte ao citado no inicio dessa seção diz Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus[5].
O culto racional exige uma mudança de mente, ou seja, não mais obedecer a parte concupiscente ou iracivel de nossa alma, mas obedecer a nossa parte racional, liberta por Cristo, para a obediência a Deus e suas leis.
Me recordo do livro de John Sttot, Crer é também pensar[6], e penso como podemos não saber porque temos fé em Cristo. Como podemos dizer que somos cristãos quando nossa ação não reflete a Cristo, e digo isso como uma reflexão pessoal, pensando em todas as vezes que não agi como deveria fazer, simplesmente por que quis fazer do meu jeito, sem pensar.
Mudança de mente, mudança de atitudes a conta e resultado são esses. Não podemos colocar nossa razão embaixo do tapete, ser cristão é algo que se faz com a razão, não por Espirito Santo, o Espirito não é guia de “cristão instintivo”, Ele guia cristão que é controlado por sua razão.
Seja você um não cristãos, essas ideias também se aplicam a você, concorde ou não, você foi feito a imagem Dele, a morte de Cristo na cruz também foi para que você, crendo, seja salvo, volta de Jesus descrita em Apocalipse também vai envolver a sua presença. Talvez você olhe e não veja razões que agradem a você, já que irão sim, limitar você, mas esse limite vai colocar você em um equilíbrio racional, você não seja mais controlado (ou descontrolado) pelos seus desejos e instintos. Seguir a Cristo é uma escolha que passa sem dúvida pelo crivo da razão. De ao menos o beneficio da dúvida.




[1] Platão desenvolve esse tema em seu livro A República
[2] Romanos 12:1
[3] Gênesis 3
[4] Pesquisando relembrei que esta ideia é apresentada por Rousseau no Do Contrato Social, de sua autoria.
[5] Romanos 12:2
[6] STOTT, John R. W. Crer é também Pensar. Editora Ultimato. 1ªEdição, 2012



Leia também outras reflexões que envolvem a vida cristã
- Reflexões de um professor sobre o papel de ser professor
- Ser professor é obedecer ao segundo mandamento
Outras reflexões
- Pensamento e Ação

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Ser professor é obedecer ao segundo mandamento



Ser professor é obedecer ao segundo mandamento

No Brasil, cada vez mais tem se tornado difícil ser professor. Na maior parte do país, a estrutura ou qualidade do ambiente do trabalho tem piorado. Não tem havido condições suficientes para o exercício pleno do magistério. É certo que há sim locais em que os professores tem excelentes condições, e talvez nesses lugares ser professor é um fardo menos pesado e não diminui a maravilha que é ser professor.
Não quero, também, com esse texto fazer uma ode ao sofrimento do trabalho do professor, romantizando e glamurizando o trabalho em locais difíceis. Mesmo que para expor minhas ideias eu use exemplos desses locais difíceis. Seja onde for, o trabalho do professor é obedecer ao segundo mandamento.
Quando digo segundo mandamento estou me referindo ao texto bíblico que relata o diálogo de Jesus com os fariseus[1]. Nessa conversa Jesus é questionado sobre qual seria e o maior mandamento da Lei, Jesus responde que o maior mandamento é amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento, em seguida emenda que o segundo mandamento é “ame a seu próximo a si mesmo”.
Oras, o que significa isso então na vida do professor? Primeiro quero que você pare por um instante e pense: “eu me amo?”, “possuo amor próprio?”. A primeira coisa para que eu seja capaz de amar a outro é amar a mim mesmo, não no sentido egoísta e individualista, mas enquanto cuidado de mim. Só podemos dar aquilo que possuímos, como dizia um estória que li, “a xicara sacudida só derrama o que tem dentro dela, se for café, derrama café, se for chá derrama chá”. Sendo bíblico, “a boca fala do que o coração está cheio[2]”, logo, a pergunta é: Seu coração está cheio de que? Será isso que você transbordará e derramará.
Segundo, quem é meu próximo? Em se tratando do professor, seu próximo são as pessoas com quem você trabalha, ou seja, seus colegas de trabalho, mas principalmente o aluno. O professor de educação infantil e anos iniciais do fundamental, passam em média 25h com seus alunos em sala, os professores do ensino fundamental e médio passam de 2 a 64h/aula (no caso de ser da rede publica estadual, a lei permite 64h/aula para os que tem acumulo de cargo na educação).
No entanto, independente do numero de horas que um professor passa dentro de sala, ser professor é obedecer ao segundo mandamento. Pense comigo, o professor é alguém que dedicou alguns anos, 3 ou 4 anos, estudando exclusivamente o conteúdo de sua disciplina, estagiou, entrou na sala “cru”, faz capacitações, buscou especializar-se, lê, estuda, gasta tempo em sua casa preparando aula. Isso tudo para quem? Para o seu aluno, seu próximo. Ter em mente isso, faz do trabalho do professor, especialmente do cristão, obediência a Deus e ao seu mandamento.
Lecionar é, ao meu ver, a segunda maneira de expressar o amor no seu sentido ágape[3], ou seja, um amor incondicional. Quero dizer que o professor não coloca condições para realizar o seu trabalho, ele prepara a aula para todos seus alunos. Para os que ele sabe que tem interesse, os que se interessam pouco e os que não apresentam interesse também estão em mente quando o professor prepara sua aula. Esses últimos acabam sendo os que mais dominam os pensamentos do professor que se questiona: “o que posso fazer para ele se interessar?”.
Nesse ponto ele é expressão do mandamento, pois, amar o próximo no mandamento denota a ação de amar a todos. Vejamos, amar os que te amam, que não exige nada de você e é fácil, basta corresponder o amor que você recebe. Amar quem não te ama, o que também não é difícil, mesmo que seja frustrante não ter seu amor correspondido. Outro é amar quem é desconhecido, o que também não é difícil, haja vista que você não conhece as falhas do outro. E aquilo que caracteriza como incondicional, amar aquele que não gosta de você. Esse é o público que todo professor tem diante de si.
Ser professor não é dar aulas apenas para ouvintes atentos e cheios de curiosidade pelo conteúdo que você tem para compartilhar. Aí está outra característica do trabalho de professor que o coloca como obediente ao segundo mandamento, você compartilha o que você tem, no caso, seu conhecimento.
Na maioria das vezes você se depara com um publico pouco ou nada receptivo ao que você tem a dizer, tendo que conquistar a atenção dos seus ouvintes. Pode ser em minutos, logo que começa a falar e se apresentar. Podem demorar algumas aulas, e tristemente, devo admitir, pode ser que nunca aconteça. Mesmo assim o professor está ali para obedecer ao mandamento de amar ao próximo como ele se ama. Dar o mesmo tipo de atenção e valor que dá para si mesmo. Cuidar como cuida de si, zelar como zela por si, nutrir como se nutri, compartilhar o que lhe foi partilhado.
Já parou para pensar naqueles professores que lecionam embaixo de árvores, em prédios de taipa, em barracões. Professores que caminham, nadam, remam, pedalam horas, quilômetros para chegar no seu local de trabalho e lecionar, aqueles que trabalham em zonas de conflito armado. O que os faz ir para o trabalho senão o amor pelos que faz e pelos seus alunos? Não é uma questão financeira, não é status social, nem reconhecimento. No caso do Brasil e em outros países, os professores da educação básica (publica) são mal remunerados. No Brasil não é status ser professor, muitas famílias não incentivam e até se opõem quando o filho opta por ser professor. Consequentemente não haverá reconhecimento do poder publico, dos pais, dos alunos e de muitos pares que compartilham com o professor o trabalho.
Apesar de toda dificuldade, inclusive apesar das facilidades (que podem levar a acomodação), ser professor é obedecer ao segundo mandamento. Ser professor é amar ao próximo como a si mesmo. É semelhante ao amor de Jesus por sua Igreja. É sacrificial, é incondicional, é altruístico, é ágape.
Alguém deve pensar, nem todo professor é assim. Minha resposta é sim, verdade nem todos são assim, uns não reconhecem assim sua profissão, outros não amam mesmo, outros é como se fosse um “bico”, temporário até outro trabalho melhor. Mas lembre-se, estou falando do PROFESSOR, esse que citei antes são na verdade profissionais da educação, um profissional da educação não é professor, nem nunca será enquanto não amar o que e a quem faz. Eles precisam mesmo é de ajuda, para não tratar seus alunos como coisas inanimadas e passivas, invés de trata-los como pessoas.
Hoje sou coordenador de uma escola, observo que meu trabalho deve seguir a mesma lógica, a de amar meu próximo, expandindo a noção de “próximo” para além dos meus alunos, para com os professores e pais de alunos da escola na qual atuo como Professor Coordenador Pedagógico. Percebo algo ainda mais profundo, a afirmação de que “quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus”[4].
Como é bom poder obedecer a Deus em muitos aspectos com meu trabalho, espero que você possa perceber quão precioso é o trabalho do professor, quem sabe o seu trabalho, seja você leitor um professor ou não. Se você nunca parou para pensar nisso que acabou de ler, deixa eu te contar: em 10 anos como professor eu nunca pensei assim, tive de completar esse tempo de magistério, passar por algumas situações e só dai me tocar dessa maravilha.
Apesar de toda dificuldade na tarefa de ser professor não se esqueça: SER PROFESSOR É OBEDECER AO SEGUNDO MANDAMENTO, AMAR AO PRÓXIMO COMO A MIM MESMO. Só que não deixe de amar-se. Encha-se daquilo que deseja transbordar.

 Leia também Pensamento e Ação e conheça mais das ideias sobre educação e vida.




[1] Mateus 22:34-40 e Marcos 12:28-34
[2] Mateus 12:24
[3] No grego temos pelo menos quatro tipo de palavras para descrever amor: eros, philia, storge e ágape. https://en.wikipedia.org/wiki/The_Four_Loves
[4] 1 Coríntios 10:31